sexta-feira, 16 de maio de 2014

não sei se realmente gosto das pessoas ou só as usava como desculpa para beber. hoje fui ao bar com alguns amigos, não bebi e poucas vezes me senti tão entediada. hoje entendi o que uma amiga sempre dizia sobre a vitória que é estar com alguém em algum lugar e não sentir vontade de ir embora.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

não bebo há uma semana.
nunca calei tanto, nunca estive tão reclusa e quieta. tem sido muito difícil encarar as coisas de frente e nunca me surpreendi tanto com meu poder de fugir, me esconder, encontrar recursos para não pensar. minha cabeça dói sem parar, todos os dias. minha falta de paciência beira a ofensa ao mesmo tempo em que, por dentro, sinto uma moleza enorme diante de tudo. tenho a sensação de que pouco ou nada pode ainda me fazer mal, mas nunca estive tão frágil e sem defesa diante de quaisquer situações. o peso dos dias é enorme e, como escrevi certa vez, vivo como se o teto estivesse tão baixo sobre minha cabeça que a cada tentativa de me reerguer, me deparo com o obstáculo e caio novamente.

tenho pensado em muitas coisas, sobretudo em minha capacidade de igualar afeto à dor. não tenho nenhuma estrutura emocional ou psicológica para suportar grandes sentimentos. quando meu namoro terminou, pensei sentir um grande alívio, mas hoje só resta em mim um sentimento terrível de incapacidade, uma tristeza gigante, uma sensação de pobreza que me poda. em minha primeira tentativa de aproximação com outra pessoa, me vi cometendo os mesmos erros que sempre cometi. tenho lido um ridículo livro de auto-ajuda que diz muito sobre esse comportamento repetitivo e essa tendência a enxergar tudo sob o ponto de vista contrário: o ponto de vista do outro, da necessidade. me vejo novamente, sem motivo algum, desesperada por migalhas de atenção ao passo em que tudo sei, com toda certeza, que não é dessa pessoa que desejo genuinamente receber atenção.

sinto uma vontade constante de chorar diante dos problemas. um cansaço sem fim, sem fim. acho que misturar meus antidepressivos com álcool durante quase todo meu tratamento foi extremamente prejudicial a minha doença, e agora quero mais que tudo retomar os cuidados. de novo. preciso encontrar um terapeuta e conseguir regrar minha ingestão de sertralina. não tenho crises de pânico já há alguns meses, mas as crises de ansiedade têm se tornado cada vez piores. me sinto dentro de uma bolha - ao mesmo tempo em que quero rompê-la, sou incapaz; ao mesmo tempo que sou incapaz, não desejo sair de onde estou.

sinto falta de ter proximidade com deus, sinto falta de distribuir afeto, sinto falta de tudo.

quinta-feira, 20 de março de 2014

iniciei esse blog por um motivo: fazer dele um diário dos meus dias primeiros dias de tratamento com antidepressivos. isso aconteceu em novembro de 2012, há um ano e quatro meses. após alguns meses de tratamento e poucos registros por aqui, tive muitas melhoras e parei o tratamento. sofri com a síndrome de descontinuação durante várias semanas... mas resolvi que venceria isso sozinha (que erro!). hoje, dia 20 de março, faz exatamente 44 dias que retomei meus cuidados psiquiátricos com a fluoxetina. pretendo voltar a escrever aqui não só como forma de desabafo, mas também para registrar meus estados psicológicos e efeitos físicos. principalmente porque, após 30 dias com o prozac, estou mudando de medicação para o cloridrato de sertralina.

veremos.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

tu não te moves de ti

"HH: Eu achava que se alguém conseguisse viver passionalmente, com intensidade total o instante efêmero, agarrando uma determinada qualidade extrema de emoção, eu pensava, essa pessoa seria tomada pelo fervor de alguma coisa chamada grosseiramente de eternidade. Hoje eu mudei e a pergunta que me faço e que faço a todos é a seguinte: é lícito dar ao outro um tal nível de intensidade, vivendo todos nós nesse mundo dissociado, caótico, absurdo, esquizofrênico em que vivemos? Quem compreende que esse mundo cindido nos leva inexoravelmente à decomposição de nós mesmos, à degradação de nós mesmos, à morte e ao esquecimento do que realmente somos ou poderíamos ter sido, forçosamente se vê levado, para sobreviver, a compactuar com o status quo. Sim, você tem que compactuar, com mil artimanhas, concessões, truques, frustrações, é o preço da tua própria sobrevivência. Então todos esticamos o arco da pactuação até o limite extremo que podemos. Mas, eu penso: essa própria pactuação, essa própria tergiversação com a repressão geral de si mesmo, as máscaras diárias, que usamos, não serão todas armas úteis para a salvação daqueles que são demasiado frágeis para assumir a grande verdade do que poderiam ser e por timidez escolhem não ser, por timidez ou sabedoria intuitiva até? (...)
Até onde se pode realmente ser livre? Como seria um ser humano totalmente livre, sem nenhuma repressão, sentindo que, no entanto, ele faz parte de um mundo caótico e que milita contra a sua liberdade? Se você sentir que teu "eu" está sofrendo uma deterioração na sua parte mais funda e autêntica, no seu âmago álmico - o que poderia acontecer depois?

LGR: Na rua opinião, jamais algum grupo humano, alguma cultura, algum indivíduo foi totalmente livre? A Grécia antiga? O homem novo postulado por Reich? Adão?

HH: Talvez Adão. Mas ele traz consigo toda a problemática da queda, portanto não sei se ele pode ser totalmente feliz na sua liberdade, se ele tem conhecimento da culpa. Pode ser livre quem sabe que caminha para a morte? Mas não me refiro a essa morte orgânica, ritual, do suor, da urina, do sangue, do mofo, não. Falo da morte espiritual do ente sozinho, consciente do seu apodrecimento. Será que alguém terá coragem de tirar todas as máscaras e existir com o rosto nu e suportar a sua humanidade diante de um destino tão opressor à sua volta? É válida a libertação de um só ou nem todos podem salvar-se?"

Hilda Hilst em entrevista a Léo Gilson Ribeiro, 1980.

terça-feira, 11 de junho de 2013

There are those who worship loneliness, I’m not one of them
In this age of fiberglass I’m searching for a gem
The crystal ball up on the wall hasn’t shown me nothing yet
I’ve paid the price of solitude, but at least I’m out of debt

terça-feira, 4 de junho de 2013

"fico besta quando me entendem"

procuro a felicidade de forma desesperada, exagerada, mas me acanho brutalmente quando enxergo sua possibilidade. apesar de tudo, "estou convencida de que o amor é a única coisa a se viver. minha infraestrutura é completamente amorosa", inclusive fisicamente. observo meu corpo e noto que, quando junto de outro corpo, mudo de forma, me adequo. sou capaz de me reinventar quando ajo por instinto, mas minha razão é traumatizada demais para que eu não entre em paranóia todos os dias da minha vida.

quinta-feira, 4 de abril de 2013


essa saudade no meu peito
esse vazio de você
esse meu jeito meio feio de não saber lhe perder

você se foi sem dizer
onde eu podia encontrar
uma razão p'ra viver

você podia me deixar
mas o tempo passou e essa dor não cessou

há descaminhos em meus passos
uma sombra que abraço
um presente passado
uma vontade tamanha de não ter mais vontade