terça-feira, 27 de novembro de 2012

ontem a noite, voltando da faculdade, vi duas pessoas chorando na rua. uma delas protagonizava uma cena muito triste: saia de um carro, com a roupa toda amarrotada e a barriga descoberta, sem conseguir ficar em pé direito, limpando os olhos na beira da calçada. era nova, devia ter no máximo uns dezesseis anos. pensei que os dias têm sido muito tristes e muito pesados na minha cidade... tanta gente morrendo todos os dias. essas coisas ficam presas no ar, circulam por aí. são paulo é uma cidade muito amarga, com muita dor entubada, com muito grito abafado. o pai do marlon, especialista em cura prânica, analisou minhas energias essa semana e constatou que tenho três chakras deficientes. meu namorado me aconselhou a parar com os remédios e procurar algum tratamento alternativo. a verdade é que me sinto completamente perdida e muito fraca, demorei muito para procurar ajuda e agora a busco por todos os lados. minha cabeça tem estado um inferno, me sinto muito cansada e mentalmente esgotada, não consigo colocar minhas ideias no lugar, não consigo pensar fria e racionalmente sobre nada. tenho me esforçado e feito o melhor que posso todos os dias.

terça-feira, 13 de novembro de 2012


Eu te amo, homem, hoje como toda vida quis e não sabia, eu que já amava de extremoso amor o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos de bordado, onde tem o desenho cômico de um peixe — os lábios carnudos como os de uma negra.

Divago, quando o que quero é só dizer te amo.

Teço as curvas, as mistas e as quebradas, industriosa como abelha, alegrinha como florinha amarela, desejando as finuras, violoncelo, violino, menestrel e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo o teu coração, o que é, a carne de que é feito, amo sua matéria, fauna e flora, seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas perdidas nas casas que habitamos, os fios de tua barba.

Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:

"Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros".

Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.

Te alinho junto das coisas que falam uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece, tira de mim o ar desnudo, me faz bonita de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega, me dá um filho, comida, enche minhas mãos.

Eu te amo, homem, exatamente como amo o que acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando os panos, se alargando aquecido, dando a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.

Amo até a barata, quando descubro que assim te amo, o que não queria dizer amo também, o piolho.

Assim, te amo do modo mais natural, vero-romântico, homem meu, particular homem universal.

Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.

Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos, a luz na cabeceira, o abajur de prata; como criada ama, vou te amar, o delicioso amor: com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso, me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles eu beijo.

the zeal i feel

ontem, sai de casa sem maquiagem e me senti um lixo o dia inteiro. ando muito deprimida. comecei a tomar remédios para minhas crises - no primeiro dia, com rivotril fiquei tão tonta que me perdi no metrô. preciso fazer exercícios mentais, e seguir três passos:
1) uma coisa de cada vez
2) primeiro as primeiras coisas
3) um dia de cada vez
preciso bloquear os pensamentos que atropelam tudo e vão parar no futuro o máximo que puder, principalmente os assustadores e pessimistas. é tão difícil. vou tentar registrar aqui, como um diário.
hoje é um dia muito triste, todas as últimas semanas têm sido muito tristes (de uma forma interna). mas vai passar. me sinto como nessa música:


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

"You may fancy yourself safe, and think yourself strong. But a chance tone of color in a room or a morning sky, a particular perfume that you had once loved and that brings strange memories with it, a line from a forgotten poem that you had come across again, a cadence from a piece of music that you had ceased to play - I tell you, Dorian, that it is on things like these that our lives depend."
Oscar Wilde, em O Retrato de Dorian Gray, 1890

sábado, 3 de novembro de 2012