quinta-feira, 15 de maio de 2014

não bebo há uma semana.
nunca calei tanto, nunca estive tão reclusa e quieta. tem sido muito difícil encarar as coisas de frente e nunca me surpreendi tanto com meu poder de fugir, me esconder, encontrar recursos para não pensar. minha cabeça dói sem parar, todos os dias. minha falta de paciência beira a ofensa ao mesmo tempo em que, por dentro, sinto uma moleza enorme diante de tudo. tenho a sensação de que pouco ou nada pode ainda me fazer mal, mas nunca estive tão frágil e sem defesa diante de quaisquer situações. o peso dos dias é enorme e, como escrevi certa vez, vivo como se o teto estivesse tão baixo sobre minha cabeça que a cada tentativa de me reerguer, me deparo com o obstáculo e caio novamente.

tenho pensado em muitas coisas, sobretudo em minha capacidade de igualar afeto à dor. não tenho nenhuma estrutura emocional ou psicológica para suportar grandes sentimentos. quando meu namoro terminou, pensei sentir um grande alívio, mas hoje só resta em mim um sentimento terrível de incapacidade, uma tristeza gigante, uma sensação de pobreza que me poda. em minha primeira tentativa de aproximação com outra pessoa, me vi cometendo os mesmos erros que sempre cometi. tenho lido um ridículo livro de auto-ajuda que diz muito sobre esse comportamento repetitivo e essa tendência a enxergar tudo sob o ponto de vista contrário: o ponto de vista do outro, da necessidade. me vejo novamente, sem motivo algum, desesperada por migalhas de atenção ao passo em que tudo sei, com toda certeza, que não é dessa pessoa que desejo genuinamente receber atenção.

sinto uma vontade constante de chorar diante dos problemas. um cansaço sem fim, sem fim. acho que misturar meus antidepressivos com álcool durante quase todo meu tratamento foi extremamente prejudicial a minha doença, e agora quero mais que tudo retomar os cuidados. de novo. preciso encontrar um terapeuta e conseguir regrar minha ingestão de sertralina. não tenho crises de pânico já há alguns meses, mas as crises de ansiedade têm se tornado cada vez piores. me sinto dentro de uma bolha - ao mesmo tempo em que quero rompê-la, sou incapaz; ao mesmo tempo que sou incapaz, não desejo sair de onde estou.

sinto falta de ter proximidade com deus, sinto falta de distribuir afeto, sinto falta de tudo.

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